ARTIGO – NO “A FORTALEZA DE CATIMBAU” O DEBATE É LIVRE E A OPINIÃO INDEPENDENTE!

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Neiff Satte Alam 

Em uma das esquinas do meu bairro tem um “boteco” onde se reúnem as maiores sumidades em todos os assuntos. O nome do “boteco”? “A Fortaleza de Catimbau”. Domingo pela manhã, ali pelas nove horas, começam a chegar os frequentadores de todos os dias e os que só podem ir aos domingos.

As discussões começam em clima muito civilizado, assim como os aperitivos. Depois de alguns “martelinhos”, as paixões futebolísticas acirram os ânimos, mas todos são muito entendidos em táticas, escalações, avaliações de tabelas e prognósticos. É bem verdade que a palavra “prognóstico” fica cada vez mais difícil de ser dita após cada gole (talagada, como preferem os experts), pois a língua fica um pouco enrolada.

O mais interessante é o ecletismo do grupo. Pedreiros, taxistas, professores, engenheiros, advogados, desempregados e outros tantos formam a roda de discussão que passa do futebol para a política no exato momento em que se começa a criticar os juízes de terem “roubado” um pênalti, ou expulsado indevidamente um jogador.
Como têm pessoas das mais variadas idades e diferentes posições políticas, a turma aborda temas desde o getulismo até a dívida externa. É bem verdade que nunca vi alguém abordar a I Guerra Mundial.

Um dia desses um sujeito, que demonstrava um bom conhecimento de história e de sociologia adquirido nas esquinas da vida, provou a outro que Golpe de Estado e Revolução eram coisas diferentes, pois Getúlio Vargas assumiu o poder em razão de uma Revolução e que, para ter sucesso e fazer as reformas necessárias, e fez, tinha que ser duro com os retrógrados viúvos da República Velha e ao mesmo tempo impedir que tanto o comunismo como fascismo prosperassem. Diferentemente do Golpe de 64 que não fez uma revolução, mas um ajuste de contas com desafetos e concluiu dizendo que o tiro saiu pela culatra dos “líderes civis”, ficando os militares de donos do poder.

Após a explanação daquele sujeito desconhecido da maioria, ficamos todos em silêncio. Um silêncio que durou uma eternidade, mas foi repentinamente interrompido por um bombardeio de argumentos e posições contrárias e favoráveis. O dono do bar teve que intervir com uma rodada extra de “martelinho” por conta da casa até que os ânimos mais exaltados se acalmassem.

Sentado bem no fundo do bar, com um copo de refrigerante e bastante lúcido, um homem que tinha a idade do tempo, mas um olhar vigoroso e cheio de sabedoria iniciou a falar com voz grave e pausada: “ – A liberdade de se dizer e fazer é uma conquista que vem se assimilando aos poucos e ter opinião divergente não é pecado nem crime, mas a receita para o entendimento, pois somente é errada a opinião que não pode ser mudada uma vez que revela sectarismo. De qualquer maneira é correto aquele que buscar sempre argumentar para defender suas opiniões, pois só assim esta ou qualquer democracia se solidificará.

Saímos todos quietos do bar, alguns andando em ziguezague, mas todos pensativos, pois temos muito que pensar depois de discutirmos acaloradamente pelos bares da vida…

(As opiniões aqui colocadas são de responsabilidade de quem as deu. Somente transcrevi!) Neiff